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Reflexões sobre a candidatura única em Batatais

Pela primeira vez desde sua emancipação política em 14 de março de 1839, a nossa cidade se depara com um cenário inusitado: uma candidatura única para o cargo de prefeito. Tradicionalmente conhecida por suas disputas acirradas e eleições repletas de emoção, Batatais se vê em um estado de apatia que destoa da sua própria história.

 

O prefeito, Juninho Gaspar, que se candidata à reeleição, conseguiu algo inédito, distópico para uma cidade como a nossa, por ser o que ocorre com certa frequência em rincões dominados por oligarquias, quase dinastias coronelistas que fazem da cidade seu quintal, para não dizer curral. A formação desse amplo arco de alianças formado por 13 partidos, abarcando quase todo o espectro partidário da cidade, inviabilizou qualquer oposição. Nem é o caso de fazer acusações ao candidato Juninho, mas sim, de questionar aqueles que não assumiram suas responsabilidades políticas, optando por um pragmático comodismo.

 

Como o novo e numericamente fraco PSOL, em nossa cidade, e o reconfigurado PSB, optaram por não participar da coligação, mas também não tiveram forças para disputar a majoritária, acabaram deixando as duas chapas de vereadores perambulando “sem cabeça”, às cegas, na busca de votos. Diante dessa realidade, é hora de uma completa reconfiguração política na cidade para futuras eleições, pois desta feita nada mais há que se possa fazer. A eleição para prefeito já está decidida, antes do pleito.

 

Esse vazio na disputa majoritária, levanta questionamentos fundamentais sobre o futuro da democracia em nossa cidade. Quando uma eleição se dá com candidatura única, o processo democrático fica enfraquecido, pois a pluralidade de ideias e a diversidade de propostas, essenciais para uma sociedade saudável, ficam comprometidas. Quando não há debate de ideias, nem confronto de propostas, o eleitor fica sem opções e tende ao ostracismo.

 

Além disso, a situação da oposição na disputa pelo Legislativo também é preocupante. Com a força da coligação que apoia o prefeito, a chance de uma oposição significativa no futuro Legislativo torna-se remota, podendo resultar em um governo sem a devida fiscalização e sem o contraponto necessário capaz de evitar abusos e garantir que os interesses da população sejam efetivamente representados.

 

Diante desse cenário, é crucial que o cidadão batataense esteja atento e consciente de seu papel nos próximos quatro anos. Já que o voto deixou de ser um instrumento de escolha, a alternativa será exercer a cidadania de maneira criativa, ativa e vigilante, trabalhando para a uma reformulação que sja capaz de forjar novas lideranças comprometidas com a democracia.

 

Uma administração sem fiscalização corre o risco de perder de vista as reais necessidades da população. Por isso, é essencial que os cidadãos assumam a responsabilidade de monitorar e cobrar dos governantes uma gestão ética, transparente e comprometida com o bem-estar de todos. Organizar-se em movimentos sociais, participar das sessões da Câmara, exigir transparência nas ações do Executivo e manter-se informado sobre os atos do governo são ações fundamentais para que Batatais não se torne refém de uma situação sem controle. Por mais que pareça apenas um jargão, a expressão "todo poder emana do povo" está no artigo 1º, parágrafo único da Constituição Federal de 1988. Portanto, o povo deve exigir, através dos seus “representantes, eleitos ou diretamente”, que seja assegurado que o poder seja exercido de maneira justa e equitativa.

 

Vivemos, sim, um momento singular e distópico, mas é justamente em circunstâncias como esta, que a participação popular se faz ainda mais necessária. Cabe a cada cidadão se manifestar e decidir como quer que sua cidade seja governada nos próximos quatro anos e garantir que, mesmo em uma espécie de não-eleição, a democracia não perca sua força, vitalidade e essência.

 

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