Quem conhece o artista plástico Jorge Veiga rapidamente percebe que ele é uma verdadeira fortaleza de resiliência. Nascido em Cuiabá, no dia 13 de abril de 1958, sua trajetória de vida revela uma história marcada por desafios, e uma profundidade emocional que raramente se vê. Jorge, que perdeu os pais ainda muito jovem, entre os 4 e 5 anos, passou parte da infância em orfanatos, e carrega consigo marcas que moldaram seu jeito reservado de ser, mas extremamente amigável.
Sempre com um tom que reflete a sabedoria de quem prefere observar e absorver, em vez de se expor abertamente, Jorge transfere para suas telas a simplicidade do modo como enxerga a vida e o mundo. Suas imagens expressam o seu modo de fazer e falar. Apesar de sua primeira infância ter sido dividida entre adoções e internações, deixando cicatrizes difíceis de apagar na memória, percebe-se na sua vida de artista que ele não alimenta nenhuma amargura no coração. Em meio às dificuldades, Jorge encontrou nas artes plásticas o canal para expressar o que transcende as palavras, usando suas criações para transmitir emoções profundas e indizíveis.
Atualmente, ele dedica parte do seu tempo rabiscando o esboço de um livro autobiográfico, com o apoio de amigos e profissionais que o ajudam a organizar sua história. A obra promete revelar em palavras, o que ele procura expressar através da pintura.
Nas entrelinhas de suas falas, é possível perceber a força e a tenacidade de alguém que, mesmo diante de uma vida tão marcada por traumas, construiu um legado que deixará aos seus. Jorge Veiga é, acima de tudo, um exemplo de resiliência. Sua arte e sua vida, são frutos de uma alma que soube transformar dor em criação, silêncio em potência. Ele não deu espaço, um só momento na vida, à solidão, nem ao abandono.
DO IAMB À EXCELÊNCIA NAS ARTES E NA VIDA
A adolescência é muitas vezes vista como um período de incertezas, mas para o artista Jorge Veiga, foi um tempo de crescimento e descobertas profundas. Em 1971, antes mesmo de completar 13 anos, Jorge entrou pelas portas do Instituto Agrícola do Menor de Batatais (IAMB), onde encontrou o apoio e a estrutura que moldariam não apenas seu caráter, mas também seu foco e projeto de vida.
Enfrentando na infância situações difíceis, desde os 5 anos de idade, foi no IAMB que ele encontrou uma nova família. Lá, entre trabalho, estudos e atividades esportivas, ele construiu as bases para sua vida. Além de oferecer moradia, alimentação e educação, o instituto também nutria os sonhos e talentos dos jovens sob seus cuidados, e foi nesse ambiente que Jorge se reencontrou plenamente com a vida.
Sua vocação para as artes surgiu de forma simples, desenhando na areia durante a infância. Essa tendência virou paixão que logo o levou a encontrar um novo caminho quando começou a estudar na Escola Municipal de Desenho e Pintura Cândido Portinari, em Ribeirão Preto. Sob a orientação de seus mestres Jorge desenvolveu suas habilidades e logo começou a chamara a atenção participando de concursos de pintura e eventos culturais, como a primeira Semana de Portinari em Brodowski SP. Também teve o privilégio de conhecer, pessoalmente, o grande artista Bassano Vaccarini.
As telas de Jorge refletem um artista com profunda sensibilidade e um olhar curioso sobre o mundo. Para ele, a arte é mais que habilidade e técnica – é uma forma de expressar suas emoções e experiências. Uma espécie de confidente da alma.
Ao relembrar sua vida no IAMB, apesar dos anos passados, ele reconhece que ali não foi apenas o berço do seu talento artístico; foi, antes de tudo, o alicerce da sua vida adulta e a modelagem da sua resiliência e formação profissional. Através do IAMB ele alcançou formação técnica em arquitetura (ETSG em Ribeirão Preto SP), Mestre de Obras (SENAI), e Certificado de Garçom Nível “A” pelo Grande Hotel Escola Águas de São Pedro.
A VIDA DEPOIS DO IAMB
Aos 19 anos, Jorge tomou uma decisão que mudaria o rumo de sua vida. Ao deixar o IAMB e mudar-se para Ribeirão Preto em 1978, encontrou-se diante de uma nova fase. Ainda em processo de adaptação à cidade e à sociedade, ele se casou e começou a formar uma bela família, superando as perdas e gerando ressignificação, tendo sido muito bem sucedido.
Agora, viúvo há 20 anos, Jorge não fala de coisas tristes. Ele procura viver apoiando sua família, deixando-os fora dos holofotes, enquanto protagoniza sua própria arte e narrativa. Jorge é solidário com todos que o cercam. Como artista plástico, sempre encontrou na arte a maneira de expressar o que, talvez, as palavras não alcançassem.
As aspirações de Jorge, são de ver um mundo mais humanizado, esperando que através da sua arte suas intenções se tornem explícitas a todos que dele se aproximarem. Em suas obras, a natureza e o humano se entrelaçam, refletindo o próprio modo como ele vê a vida - com um equilíbrio delicado entre o que é grandioso e o que é perene.
Olhando para sua própria trajetória de vida, Jorge compartilha lições com aqueles que enfrentam desafios semelhantes aos dele. “Eu sempre sonhei com um mundo melhor para todos. Olho para trás e vejo o quanto precisamos caminhar para termos esse mundo melhor – precisamos de um conjunto de fatores capazes de mostrar que todos precisam de todos”, disse ele, em uma troca de ideias. As suas palavras ressoam como um misto de idealismo e realismo, um reconhecimento de que a caminhada para um mundo melhor é longa, mas que a interdependência humana é o alicerce dessa jornada.
De minha parte, acredito que Jorge ainda guarda histórias profundas dentro de si, talvez esperando o momento certo para trazê-las a lume no seu livro que será, com certeza, um memorial do coração, completando o que ele revela através das telas, mostrando a complexidade de uma vida simples.
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Temos uma exposição de Jorge Veiga no Espaço Cultural do Legislativo de Batatais SP
(Ao lado da Câmara Municipal)
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