Ontem, 17 de outubro de 2024, a lua surgiu tão cheia e grande que parecia querer contar um segredo antigo, desses que atravessam séculos. Espalhava-se no céu como uma dama vaidosa, consciente de sua beleza, e eu, tolo, tentei aprisioná-la para que permanecesse como estava.
Era um espetáculo que merece silêncio. A luz prateada, difusa e leve, escoltada pelos telhados, alcançava os cantos esquecidos da rua e vestia de mistério as copas das árvores. Mas assim que ousei encará-la por tempo demais, ela brincou comigo, como quem escapou de um beijo apressado. Escondeu-se entre nuvens rasas, insinuando que nem sempre a beleza é para ser possuída.
FOTOGRAFIAS NA NOITE DE 17/10/2024
Houve momentos em que parecia se deixar capturar, posando no céu entre nuvens, como se quisesse ser a moldura na minha paisagem noturna capturada pela câmera. Mas logo fugia, desaparecendo como uma memória que se dissolve, deixando no ar apenas a sensação de ter existido - mas nunca por completo. E fiquei ali, parado, compreendendo, de fato, que há coisas que não pertencem a ninguém. A lua, em toda sua grandeza, é uma dessas coisas: livre como um pensamento que nunca é dito, como um sonho que acorda antes de terminar.
FOTOGRAFIAS NA NOITE DE 17/10/2024
E percebi que talvez eu não quisesse mesmo aprisioná-la. O encanto da lua não está em tê-la para mim, mas na sua travessura de fugir - e fazer despertar em mim uma vontade infantil de persegui-la. Há uma filosofia antiga que diz que o belo é efêmero justamente para que aprendamos a apreciá-lo com intensidade, sem nunca pretender aprisioná-lo. A lua da noite de 17 de outubro de 2024 me ensinou isso: que a verdadeira beleza está em deixar que o olhar passeie sem possuir, que a alma se delicie, por não ser aprisionada.
Enquanto ela se escondia e reaparecia, num jogo silencioso de esconde-esconde, uma paz estranha se instalava. Talvez a lua cheia não seja para ser admirada como uma promessa, mas como uma lembrança de que tudo o que vale a pena na vida, vai e vem, assim como a lua que se escondeu entre arbustos.
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ESTA CRÔNICA FOI UM MOMENTO DE EXTRAVASAMENTO DA ALMA DE CRONISTA E POETA QUE SE ESCONDE NO MEU INTERIOR DESDE A JUVENTUDE. NAQUELE TEMPO EU ESCREVIA POEMAS, PENSANDO EM PUBLICAR UM LIVRO QUE, AINDA HOJE, ESTÁ ESCONDIDO AGUARDANDO O SEU MOMENTO, POIS ASSIM COMO A LUA, CRÔNICAS E POEMAS NÃO ENVELHECEM...
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