As expressões populares "deu um tiro no pé" e "o tiro saiu pela culatra" são frequentemente utilizadas em nosso cotidiano como se tivessem o mesmo significado, mas têm diferenças significativas. Na primeira, “deu um tiro no pé”, o fracasso ocorre por imperícia do atirador, de quem executa o plano. Já a segunda, “o tiro saiu pela culatra”, aponta para um defeito na “arma”, o meio utilizado, indicando que o plano falhou por causa de fatores alheios à habilidade de quem executou. Tanto faz se houve “tiro no pé” ou “tiro pela culatra”, os prejudicados serão os mesmos.
Os arranjos políticos nas eleições aqui de Batatais neste 2024, já mostram algumas consequências visíveis de “atiradores” prejudicados, mas ainda será necessário aguardar o tempo certo para uma análise mais aprofundada do cenário completo para identificar quem deu “tiro do pé” e quem foi atingido pelo tiro que “saiu pela culatra”.
O contexto inédito que se desenrolou na cidade, resultando na mega coligação que reelegeu o prefeito e seu vice, ainda tem muitos bastidores que só o tempo poderá revelar. Neste primeiro momento, no entanto, alguns já se encontram feridos. Se não estão sentindo dor, certamente é devido à adrenalina do momento que ainda não permite uma análise de cabeça fria. No tempo certo perceberão o ferimento e a dor.
O que os idealizadores da mega coligação mais desejam, é que os arranjos que marcaram o ineditismo das eleições de 2024 em Batatais, caiam logo no esquecimento. Aliás, isso não será difícil, pois uma característica da dinâmica desse nosso tempo é o esquecimento. À medida que o tempo passar e as atenções se voltarem para o dia a dia e para o futuro do governo, muitos vão até esquecer que houve candidatura única.
A partir de janeiro de 2025, os vereadores que ocuparão as 15 cadeiras da Câmara Municipal terão quatro anos para trabalhar e, ao mesmo tempo se preparar para a próxima eleição. Os reeleitos para o Executivo, Juninho e Ricardinho, estarão focados em consolidar suas equipes e garantir que cada promessa seja cumprida na montagem do governo. Algumas “traições” até poderão acontecer, mas sempre haverá bombeiros suficientes para apagar o fogo, e evitar maiores estragos.
Os ferimentos que ocorreram, seja por “tiro no pé” ou “tiro que saiu pela culatra”, servirão como lições para o futuro. Agora, a vida continua e os erros humanos ou falhas no equipamento podem impactar tanto positiva quanto negativamente, dependendo da reação de cada um, pois na vida apreendemos também com os erros.
LIÇÕES QUE OS FATOS JÁ REVELAM
Neste primeiro momento, alguns fatos já se evidenciam resultantes de “tiros no pés ou tiros pela culatra”. Você mesmo pode decidir se concorda ou discorda; se foi “tiro no pé” ou “tiro pela culatra.”
FATO 1 - Quando o prefeito reeleito diz que teve a maior votação numérica da história da cidade, está dizendo a verdade. Mas é necessário explicar que não houve opção para votar em outro. Claro que isso não tira o mérito da estratégia de juntar tantos partidos a ponto de desidratar a possibilidade de qualquer outra candidatura.
FATO 2 - Proporcionalmente, em relação à sua própria votação, na eleição de 2020, quando concorreu com outros três candidatos (Mazzaron, Sabará e Fenando Ferreira), Juninho e Ricardinho tiveram excelente desempenho. Poderiam ter desempenho maior ainda em 2024, mesmo concorrendo com qualquer candidato. Será que não teria sido mais convincente?
FATO 3 - Na eleição dos vereadores, dos 13 que concorreram à reeleição fazendo parte da mega coligação, apenas cinco foram reeleitos. Oito ficaram de fora (Marcos Santana, Dr. Maurício, Santana, Marilda Covas, Abdenor Maluf, Anabella Pavão, Dr. Paulo Borges e Boy).
FATO 4 - Os dois partidos que não entraram na mega coligação, também não podem se eximir de culpa. Mesmo que em cada um deles tivesse um ex-prefeito (Zé Luis no PSB e Fernando Ferreira no PSOL), se omitiram de participar, impedindo que a democracia, que dá direito de opção ao eleitor, fosse respeitada.
FATO 5 – Como resultado da omissão, o PSOL viu a sua candidata, Gabriela Arantes conseguir a quinta colocação em número de votos, e mesmo assim ficar de fora com 10 concorrentes com menos votos sendo eleitas. Com certeza, se houvesse uma candidatura majoritária no partido Gabriela estaria ocupando uma das 15 cadeiras do Legislativo.
FATO 6 - No PSB, partido com maior consistência que o PSOL, se tivesse uma cabeça de chapa, teria conseguido, no mínimo, duas cadeiras. A reeleição da vereadora Andresa, que preside a Câmara aconteceu pelos seus méritos de manter sua média de votação. Por pouco ficaria de fora sem os votos suficientes para o quociente eleitoral.
CONCLUSÃO
Sem precipitação, podemos concluir que os próximos quatro anos servirão para todos nós constatarmos se houve “tiro no pé” ou “tiro saindo pela culatra”. Até as eleições municipais de 2028, muitas águas passarão debaixo da ponte e nós, o povo, ficaremos torcendo para que todos os eleitos façam o seu melhor para termos, como sempre, um mínimo de alento em relação às promessas que são feitas nas campanhas eleitorais.
Em 2014, Márlon J. Reis, o Juiz de Direito e relator da Lei da Ficha Limpa, publicou o livro “O nobre deputado”. Entre as muitas revelações que ele faz sobre a política, uma das mais importantes é que ela é movida a dinheiro e poder. O livro mostra que dinheiro compra poder, e poder é uma ferramenta poderosa para se obter dinheiro. Um verdadeiro círculo vicioso e viciante.
Em síntese, é disso que se trata as eleições. É de arrepiar quando Márlon afirma, com argumentação convincente, que o eleitor não faz a menor diferença quando aperta o botão verde da urna eletrônica para votar. O seu voto pouco importa, pois a única coisa que vira o jogo é uma avalanche de dinheiro. O jogo é comprado, vence quem paga mais. Sempre foi assim e sempre será, pois os novatos que ingressam com ilusões de mudança são cooptados ou cuspidos pelo sistema.
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